Este blog é organizado pelo Poeta Clécio Dias e tem o objetivo de preservar e divulgar a literatura de cordel da Capital da Sulanca.

23 de novembro de 2007

O Rio Capibaribe


O som das águas do meu rio alegre
Sumiu no tempo como some a vida
E agora a dor do rio é um silêncio
Que se evapora numa voz contida!

Rio Que outrora me serviu de praia
E onde mamãe bem de manhã lavava
Aquelas roupas que comprei nas feiras
Sulancas da cidade que embalava...

Ia crescendo e sempre foi crescendo
Ruas mais ruas Santa Cruz crescia
Pena que o rio foi abandonado
E Santa Cruz do rio se esquecia

O rio ao lado da cidade grande
Chora guardando nossa podridão
E um sentimento de impunidade
Mora no rio e em nosso coração

O rio chora, mas chora baixinho
Todas as noites quando a lua vem
Rio que fez nascer nossa cidade
Hoje esquecido vive sem ninguém

Mas toda noite em me lembro do rio
Ele está triste e até morre de frio!

Quando a cidade se vestir em festa
E quando a Santa aniversariar
Lembrem que o rio é um coração ferido
E nós jamais soubemos presevar!

22 de novembro de 2007

A 5ª série da Cosntruindo o Saber


Em certa noite sem sono
Me acordei mais de uma vez
E resolvi escrever
Um poema pra vocês
Um poema que falasse
E uma rima que mostrasse
Nosso relacionamento
E de uma forma perfeita
Aí peguei a caneta
E fiz naquele momento!

Trata-se da 5ª Série
Que a mim ensinar compete
A turma que comecei
Dar aula em 2007
Turma que tem 20 alunos
E em momentos oportunos
Tentam comigo aprender
Um assunto bem bacana
E a gente toda semana
Aprende a ler e ecrever!

Segundas e terças-feiras
O nosso encontro é marcado
A gramática é o assunto
Que ora eu tenho ensinado
Algus ficam se escorando
Outros ficam conversando
Mas eu tento demonstrar
Como é pra nós importante
Aprender a todo instante
Como escrever e falar!

E assim fui me lembrando
De cada um de vocês
Tentando lembrar os nomes
Eu não fiquei no talvez
Só Marias Eduardas
Comigo estudam três
Mas eu não achei difícil
Falar das três de uma vez!

Uma delas é Paulino
E do momento eu não fujo
Outra é Araújo Bezerra
A outra Bezerra Araújo.
Elas têm a mesma idade
11 anos na verdade
E a que não tem ou não fez
Eu digo sem ter engano
Que 11 anos este ano
É a idade das três!

Enquanto eu pensava nelas
Me lembrei de Juliana
Que tal qual as Eduardas
É uma aluna bacana.
Juliana é gente fina
Pensei: Luma Carolina
É outra aluna importante
Ana Flávia simplesmente
É uma aluna contente
E acha aula interessante!

Outra Ana é Beatriz
A qual chamamos de Bia
Que gosta de Português
E adora ouvir poesia
Aí lembrei de Letícia
Quando me dá a notícia
De algo que aconteceu
Nisso lembrei de um menino
Que é Renato Severino
Aluno e colega meu!

Alguns lhe chamam de Neto
Mas ele não fica bravo
Há outro aluno brilhante
O nome dele é gustavo
Estefânio é o sobrenome
Na hora eu pensei num nome
De outro dos alunos meus
Com ele não há sufoco
Pensa muito e fala pouco
O nome dele é Mateus!

Sarah na sala é destaque
E tem participação
Faz comentários na aula
Nós prestamos atenção
Bárbara também comenta
E o conhecimento aumenta
Pois prestativa ela é
Já era quase de dia
E na hora que eu me esquecia
Eu me lembrei de José!

Adailton ou só José
Cada um chama de um jeito
Marcela é uma menina
Pela qual tenho respeito
Já Larissa é sorridente
Também é inteligente
Me lembrei dela e Marcela
Pensei em outra aluna minha
Fica sempre caladinha
Paloma é o nome dela!

E ali no memento certo
Foi hora de eu escrever
Algo pra Igor Roberto
Que também busca entender
Igor Roberto também
É um colega de bem
Pensei naquele momento
Está faltando Gabriel
Que tem um ótimo papel
E busca o conhecimento!

Eu disse: falei de todos
Falei. Não falta nenhum
Mas olhando direitinho
Inda está faltando um
Era Lucas que faltava
Nessa hora eu gargalhava
Pois agora terminei
Era o verso derradeiro
E Lucas foi o primeiro
E o último que me lembrei!

No entanto é brincadeira
Pois não esqueço nenhum
Mesmo sem a caderneta
Eu falo de um em um
E a prova é este poema
E eu não tive problema
E fiz logo de uma vez
Mesmo sendo bem sucinto
Pra demonstrar o que sinto
Por cada um de vocês!

20 de novembro de 2007

Helenice


Em casa ou na rua
Mas sempre ao meu lado
No sol ou na chuva
Nas asas do tempo
Nas tardes mais quentes
Nas noites mais frias...
Nas ruas ou vilas
Nos dias estranhos...

Nos meus pensamentos
Nas minhas loucuras
Nos meus dias tristes
Nos meus dias claros
Nos meus olhos negros
Os olhos se encontram
A flor que nasceu
E que cresce ao meu lado...

O palco e essas peças
Que eu vivo fazendo
E até na fazenda
Que eu vivo pensando
Nos beijos, nas mãos
Nos versos que faço
Nas belas manhãs
Que acordo sorrindo...

Me importa os momentos
Que passo com ela
Nos dias que passam
E ela comigo...

Helenice, um sorriso
Que atravessa os anos
Se passam os dias...
Mas sempre ao meu lado!

17 de novembro de 2007

Literatura de Cordel


Os estilos das estrofes e a métrica vieram nas caravelas portuguesas na época do descobrimento, mas a literatura de cordel adquiriu ares nordestinos tão marcantes que praticamente se tornou uma expressão artística genuinamente nordestina. E mais ainda: uma expressão que se desenvolveu somente aqui na região Nordeste do Brasil.Os cantadores repentistas, os aboiadores, os emboladores e os cordelistas foram e ainda são, apesar da “desvalorização” de que são vítimas no dia-a-dia, os principais produtores e disseminadores desta arte que atualmente ainda passa por análises acadêmicas que já dão conta do seu valor artístico e cultural. Por isso, os versos que eram recitados pelos “matutos”, não-alfabetizados, miseráveis, sertanejos nordestinos foram muito discriminados pelas outras regiões. Isto é, com o mesmo grau que discriminavam as pessoas nordestinas trataram de discriminar toda a arte produzida aqui como sendo tão pobre e tão miserável quanto à situação em que os nordestinos viviam.Toda a cultura do sertão nordestino, as secas, as crenças religiosas, etc., eram contadas pelos artistas da palavra que conseguiam cantar e de forma genial o modo de vida do povo simples que sempre foi excluído e “massacrado” vítima de um preconceito que mesmo tenha perdido a força ainda deixa rastros difíceis de serem apagados pelo tempo. Esses artistas que tiveram muitas de suas obras “jogadas no chão” como sendo obras de analfabetos, ingênuos estão sendo hoje largamente redescobertos nas universidades, sobretudo do Nordeste, onde há uma tentativa de ressuscitar grande parte de nossas origens e colocar nossa verdadeira identidade no lugar que merece.O que se busca, em outras palavras é, através da redescoberta de formas artístico-culturais que nasceram e adquiriram originalidade no Nordeste mostrar que o povo nordestino não é nem nunca foi esse “emaranhado de pobreza cultural” – idéia que através dos tempos foi disseminada, inclusive em “Os Sertões” de Euclides da Cunha. Outrossim, mostrar que aqui não só existiam a seca e os retirantes como se “convencionou” pelos sulistas e até por grande parte de nordestinos, mas existia também, uma vasta produção artística que se consolidou e que expressou os anseios, o modo de vida, as particularidades e principalmente a arte de um povo que ao longo do tempo foi estigmatizado como sendo inferior à cultura de outras regiões.Hoje em dia, que se dá tanta ênfase ao relativismo cultural, ou seja, as culturas são diferentes e não melhores ou piores que outras, a literatura de cordel se liberta das correntes do desprezo a que foi submetida durante décadas e alcança um status que, embora não seja o ideal já é divulgado em meios de comunicação que antes a ignoravam. No entanto, os meios de comunicação de massa ainda se negam a inserir em sua programação as artes “estigmatizadas”.A literatura de cordel é uma das incontáveis manifestações do povo nordestino. Teve uma utilidade incalculável no seio do sertão da nossa região, onde se desenvolveu com mais intensidade. O cordel serviu como jornal, como novela, como filme, como protesto, como cartilha, como coluna social de um povo que não tinha acesso a nenhum desses privilégios. Por tudo isso, é essencial que o cordel esteja nas escolas e que seu valor seja transmitido integralmente à nova geração, que como essa nossa está correndo o risco de dar as costas às nossas origens e dar continuidade a supervalorização das culturas sulistas que sobrepõem a nossa e criam em nós mesmos o preconceito em relação às manifestações oriundas das nossas próprias origens. Em síntese: um preconceito sobre nós mesmos!