Este blog é organizado pelo Poeta Clécio Dias e tem o objetivo de preservar e divulgar a literatura de cordel da Capital da Sulanca.

21 de junho de 2009

Eleições a cada dois anos

Eleições a cada dois anos:
O incentivo ao voto fanático e doente.
O medo do SILÊNCIO do povo!


Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário montam o esqueleto político do nosso país. Montesquieu não poderia ter sido mais brilhante. No entanto, para os que pensam que nesse sistema mora a verdadeira justiça somente temos que lamentar. Pois é, todo esquema político montado vem recheado de interesses e formas de dominação e neste, tão consagrado pelos recantos do mundo, não poderia ser diferente.
Apesar disso, toda a legitimação desse sistema, principalmente no Estado Democrático de Direito (o nosso), se vale da afirmação de que todo o poder emana do povo. De fato, o “povo” vota, embora de forma errada e longe da racionalidade, mas vota. Isto é, realmente, quem faz as leis é o Poder Legislativo, quem as aplica, o Poder Judiciário. E é sobre esses dois poderes que hoje me proponho a escrever, não isentando de culpa o Poder Executivo, é claro, que tal qual os outros dois pratica e contribui para que tudo continue assim, ou até piore. A princípio, lembrar de que as leis contidas nos Códigos foram obras de juristas e ratificadas pelos legisladores: senadores e deputados eleitos por “nós” é essencial para que se entenda! A forma como foram eleitos pode-se até se questionar, mas que o voto saiu do povo, não há como negar. É óbvio que nem todo mundo votou nos candidatos que foram eleitos, mas temos que engolir todo dia: “eu tô aqui porque o povo quer”!
A cada dois anos, a ladainha começa: Vamos continuar! Vamos mudar! Em muitos casos, continua ruim mesmo, em outros, piora; na maioria nem melhora nem piora, continua pior mesmo. O mais interessante é que começam as críticas dos que votaram para mudar ou dos que votaram para continuar... e as críticas se estendem, se fundamentam e se elevam, mas ninguém faz nada. É mesmo assim: só fica na boca todo o sentimento de revolta. Até quando a Justiça se omite e não condena um político que fraudou o dinheiro público as críticas se elevam e o mesmo povo que elegeu o político desonesto é o mesmo povo que pede sua condenação e tece as mais duras criticas à Justiça (da terra, é claro). Por influência dos altos postos do escalão a Justiça não pune e o povo se revolta. No entanto, chegam as eleições e o mesmo político, motivo de revolta do povo, se candidata e... pura ironia: o povo o presenteia e o elege com milhões de votos. Quer contradição maior? O mesmo povo que pediu a condenação na Justiça é o mesmo que absolve e presenteia nas urnas; que ama e idolatra nos comícios...
Eis o perigo! O Presidente, o Governador, o Prefeito, o Deputado, o Senador, o Vereador estão ali porque elegemos e “confiamos” neles para que nos representassem; o Ministro, o Desembargador e o Juiz estão ali para aplicar as leis feitas e aprovadas por quem enchemos de voto. Quer maior amarra? Ora, tudo saiu do dia do voto: do voto inconsciente, do voto fanático, do voto doente... embalado pelos gritos e pelas cores, pelos carros de som e das melodias alegres e penosas... (todo poder emana do povo). E agora? Já passaram as eleições: é hora de culpar, mas culpar quem? A nós mesmos? Ou procurar a quem culpar? Ah! A Justiça. Isso. Não votamos em seus membros. Ah! Não vamos culpar o prefeito, o governador??? Ah! Mas eu gosto deles: os coitadinhos, são tão bonzinhdos – vestem as cores que eu gosto. Pura decepção misturada com o sentimento de burrice e idiotice queima a mente dos que votaram e que agora sofrem as consequências...
Ficamos sem saber se o povo é burro, inocente, falso ou doente. Pode até ser as quatro coisas, mas isso somente se revela na época da eleição, pois parece-me que as críticas ao longo dos mandatos se estendem até às proximidades dos comícios e dá-nos a impressão de que a revolta vai sair da boca e entrar nas urnas, estas enquanto fechadas, nossa esperança, depois de abertas nossa decepção. Para os eleitos o prazer de encher a boca e dizer: “eu tô aqui porque o povo e Deus me botaram” até Deus, assim como a gente, é colocado como causador da própria miséria da gente. No fim, (todo o poder emana do povo), por isso o povo tem que votar. A lei até ameaça punir os que não votarem, mas nunca puniu. Não é o medo de ser punido que faz com que o povo vá às urnas, mas a zoada, a doença, o fanatismo, a crença cega, a ignorância, a inocência, as esmolas, os esquemas, os favorecimentos... Nunca o povo ousou agir, mas somente aceitar. Não acredita em nenhum, mas insiste em eleger sempre um deles. Se o povo não fosse votar, todo o sistema político estaria desprovido da legitimação: se todo o poder emana do povo que poder existiria se o povo não votasse? Eis o maior medo dos governos: o silêncio do povo! Baudrilard, filósofo francês, já dizia. Portanto, o povo que nunca teve coragem de agir por conta própria também nunca teve coragem de se omitir por conta própria. Nunca teve coragem de gritar para seu próprio bem, também nunca teve coragem de silenciar quando isso, pelo menos, lhe daria o direito de não ser cupaldo pela sua própria infelicidade...

Clécio Gonçalves Dias, cidadadão de Santa Cruz do Capibaribe - PE