Anderson, Tody de Amaro Dias, Deomedes, Francimar, Toinho do Pará, Clécio Dias, Juciara, Osmar, Augusto, Carla Rafaela, Osmar, Fernando, Josivaldo, Verônica, Veridiano e Silvaneide!
Este blog é organizado pelo Poeta Clécio Dias e tem o objetivo de preservar e divulgar a literatura de cordel da Capital da Sulanca.
18 de fevereiro de 2011
9 de fevereiro de 2011
7 de fevereiro de 2011
O Jogo da Cohab com o Inferno
Em julho de 2003 eu tive uma linda inspiração numa certa noite. Acordei e escrevi este cordel a quem dei o título O Jogo da Cohab com o Inferno. Em 2006, na UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) meus colegas do curso de Letras me incentivaram e foi publicado o cordel que expressa a cultura da vila da Cohab onde moro há 17 anos.
Você vai adorar o cordel, pois é uma interessante comédia. Boa leitura!
O Jogo da Cohab com o Inferno
Autor: Clécio Dias
Minha vila da COHAB
Ama muito o futebol
Joga no muro e na rua
Joga na chuva e no sol.
Enfrenta qualquer parada
Nunca foge da dispta
Jogam na bola e no braço
Faz da partida uma luta.
Os jogadores se esforçam
Brigam no campo com raça
Cacete é quando o troféu
É o litro de cachaça!
Na disputa do litrão
O tapa-ôi faz zoada...
O cotovelo vadeia
Perna de gente é quebrada.
Juiz apanha no campo
Bandeirinha sai de maca
Ponta-pé, murro, cacete,
Dedo-na-venta, facada...
Que esse time é bom de bola
Isso todo mundo sabe
E diziam que só o cão
É que dava na COHAB
Por isso se cogitou
Um jogo de cabo a rabo
Onde a COHAB jogasse
Com o tme do diabo...
Seu Belo, Naldo e Indhó
Certo dia viajaram
O destino era o inferno
E logo assim que chegaram
Encontraram Satanás
Seu Belo perguntou posso?
Viemos tratar um jogo
Do seu time com o nosso.
Satanás todo espantado
Prontamente perguntou:
Vamos apostar o quê?
Se Belo lhe respostou
Trinta caixas de pitú
Você topa camarada?
Santanás disse: Se Belo,
Não temos medo de nada...
Diga quando é esse jogo
Que vamos com mais de cem
Naldo gritou sem demora
Vai ser sábado que vem
Era um sábado bonito
Uma linda tarde de sol
Tudo estava preparado
Pro jogo de futebol...
A torcida da COHAB
Vibrava com o duelo
Mas notei que ela sentia
Muita falta de Marcelo
Esse foi pra outros campos
Onde a vida é diferente
Mas mesmo assim lá de cima
Ele é torcedor da gente
A COHAB estava pronta
Foi feita a escalação
Os goleiros Lucimário
E Cícero Pimentão
Os zagueiros: Nego César,
Dedezão, Maú, Dozinha,
Júnior, Osmar, Massapê,
Papa Laigata e Quiquinha.
Na frente: Marrom, Virino,
Macarrão, Marlos, Dudu,
Seco, Marcos Chinelinha,
Cristian e Pitibu...
Cleiton, Edinho de Apolônio,
Desfilaram com o terno
Minutos depois saiu
A escalação do Inferno.
O goleiro era o Demônio,
O outro Galocha Preta
Judas, Zé Veneno, o Cão,
O Diabo e o Capeta...
Mais a frente Lampião,
Carniceiro, Barrabás,
Caim que matou Abel,
Besta Fera, Satanás...
Até a Febre do Rato
Também viera jogar
Nero que incendiou Roma
Dizia vamos ganhar
O trio de arbitragem
Vavá, Traíra e Amigão...
Iam começar o jogo
Mas houve uma confusão
Era Vela e Doriana
Que vendem cachorro-quente
Brigavam por um local
Que ficasse mais na frente
Vela disse: meu amigo
Vo-vo-você tá errado...
A-a-qui cheguei primeiro
Não saio nem amarrado...
Doriana inda se armou
Mas Seu Naé interveio
Deilton e Edson Gordão
Também entraram no meio...
Vavá lambeu o bigode
Logo depois apitou
Duca disse: até que enfim
Esse jogo começou
No campo era uma batalha
Quando Barrabás correu
Satanás pediu na ponta
Pegou abola e bateu
Um chute assim parecido
Um furacão de inverno
Lucimário inda foi nela
Porem foi gol do inferno
Tristeza pra todo lado
Pelota cambaleou
Correu pro Bar de Zabé
E a todo mundo contou
A COHAB está perdendo
Depois disse sem demora
Trinta caixas de pitú
Também estão indo embora
Tudo o quanto foi de bebo
Que estava naquele bar
Correu pra assistir o jogo
Gritando tem que ganhar
Daquela casa de apoio
Que é de Natelson Catanha
Os bebos também vierm
Em gritos de ganha ou ganha
Uma legião de bebo
Arrodeou o gramado
Uns oitenta biriteiros
Contei meio atrapalhado
Isso sem contar Baixinho
Que é irmão de Doriana
Ficou com água na boca
Ao ver as caixas de cana.
Marão bebo dava pulos
Uma pressão da desgraça
Dizendo o diabo mexeu
Com a turma da cachaça
Lucimário machucou-se
Entrou ciço Pimentão
Acharam ser necesária
Outra modificação
Era uma espécie de muro
Pra anular qualquer passe
Botaram quatro zagueiros
Pra derrubar quem passasse
Dedezão, césar, Dozinha
E Maú que ainda explica
O cabra pode passar
Mas a perna dele fica
Nisso a COHAB atacou
De Virino pra Quiquinha
Marlos deu de calcanhar
Para Marcos Chinelinha
Marquinhos dribou o Cão
Viu o Demônio adiantado
Deu por cima e fez o gol
Pela COHAB esperado
A equipe do Inferno
Achou ruim este gol
Besta Fera inconformado
A todo mundo insultou
Isso irritou Macarrão
Vanderlei e Seu Naé
Capeta cantou pra briga
Ivanildo Batoré
Nil partiu pra cima dele
Mas Apolônio chegou
Segurou Nil pelo braço
Besta Fera recuou
Vavá deu continuidade
A partida pegou fogo
Faltavam só dois minutos
Para terminar o jogo
Quando a COHAB atacava
Num chute a bola sobrou
Pegou na venta de Edinho
Bateu na trave e entrou
Dois a um para a COHAB
Assim saiu o placar
Lá no quinto dos internos
O inferno foi jogar
E viu que aqui da COHAB
Ninguém consegue ganhar.
Santa Cruz do Capibaribe, 12 de julho de 2003.
6 de fevereiro de 2011
Josina, a menina perdida
Imagem apenas ilustrativa
Um dos cordéis mais lindos de todos os tempos. Emocionante e envolvente. Uma das mais lindas inspirações de José Soares. Boa leitura.
Josina, a menina perdida
Autor: José Soares do Nascimento
Botei a pena na mão
Aproveitando o ensejo
Para contar uma história
Que contou-me um sertanejo
Sendo ele um viajante
Não sei se ainda o vejo
O sertanejo contou-me
Que perdeu-se uma menina
Filha de uma viúva
Chamada Dona Cristina
Nos tristes bosques medonhos
Do Sertão de Petrolina
A criancinha contava
Oito anos de idade
Dona Cristina dispunha
De boa propriedade
Num pé duma grande serra
Muito longe da cidade
Um dia Dona Cristina
Fez da filha um portador
Para levar um recado
Na casa de um morador
Cujo recado deu margem
A esta perda de horror
Era uma tarde nublada
Só não estava chovendo
Dona Cristina lhe disse:
Josina, tu vais correndo
E não demores por lá
Que está anoitecendo
Eram quase dois quilômetros
A viagem que ela ia
Dona Cristina mandou-a
Sem nenhuma companhia
Havia muitas veredas
Porém Josina sabia
Já era no fim da tarde
Quando Josina seguiu
Chegou lá deu o recado
No mesmo instante saiu
Mas na volta demorou-se
Com umas frutas que viu
Era um pé de cambucás
Estavam os galhos pendendo
Josina chupando as frutas
Naquilo ia se entretendo
Nem sequer veio na mente
Que estava anoitecendo
Quando já estava escuro
Josina seguiu incerta
Por uma grande vereda
Pensando que ia certa
Ia em procura da serra
Tirana, feia e deserta
Chegou no cimo da serra
Coitadinha esmorecida
Sentou-se pra descansar
Chorando e arrependida
Naquilo a chuva chegou
E ela julgou-se perdida
Josina disse chorando:
Ai, Meu Deus, que faço agora
Perdida nesta montanha
Perdida fora de hora
Voltar pra casa não sei
Valei-me Nossa Senhora
Era chuva em abundância
Com relâmpago e trovão
O vento inundava a serra
Josina em aflição
Só tinha por companhia
O ermo e a solidão
Ela dizia chorando:
Só foi por causa das frutas
Que hoje me vejo perdida
Nestas montanhas tão brutas
Inda querendo voltar
Não sei por causa das grutas
Meu Deus eu estou molhada
De não poder resistir
Perdida nestas montanhas
Sem acertar pra sair
Como é que eu passo a noite
Sem cear e sem dormir
Mamãe disse que tem onça
Nestas serras do Sertão
Se uma onça pegar-me
Aqui nesta solidão
Eu morro e não vejo mais
Mamãe do meu coração
*
*
A chuva torrencial
Escalavrando os rochedos
Os trovões impetuosos
Bramiam pelos degredos
Troavam os ventos soberbos
Nas copas dos arvoredos
Porém, como Deus é pai
A tempestade acalmou
As águas se separaram
O trovão se alongou
Os ventos se separaram
Josina se consolou
Seguiu pelo bosque adentro
Foi sair em um lajedo
Transpassadinha de frio
Com fome, chupando o dedo
Como quem daquele bosque
Já tinha perdido o medo
No outro dia bem cedo
Pelo bosque caminhava
Ficando cada vez mais
Distante de onde morava
Subindo serra e descendo
Nem com vereda acertava
Se achava frutas, comia
Às vezes, cheirava flor
Os passarinhos cantavam
Para ela era uma dor
O velho mocho agoureiro
Dava gritos de horror
Perdida dentro do bosque
Ficou a pobre menina
Vou tratar da aflição
Que sofreu Dona Cristina
Quando viu anoitecer
Sem ter novas de Josina
Chamou um rapaz e disse
Já quase turbando a fala
Vá procurar minha filha
E se você não encontra-la
Volte logo, sem demora
Que eu quero ir procurá-la
O rapaz botou a cela
Num burro galopador
E chegou a toda pressa
Na casa do morador
Perguntou: Josina está?
Responderam: não senhor.
Sem ter demora nenhuma
O rapaz se despediu
Seguiu por uma vereda
Procurou rastros, não viu
Gritou, ninguém respondeu
Montou no burro e saiu
E chegando em casa disse
Nem notícia de Josina
Se minha filha perdeu-se
Exclamou Dona Cristina
Voltem logo, sem demora
Vão procurar a menina
Foi chegando um morador
Com a família que vem
Saber o que sucedeu
A chuva chegou também
Ficaram sob ordens de Deus
Sem poder sair ninguém
Era chuva em abundância
Com enorme ventania
Choveu até alta noite
Das casas ninguém saía
Choravam todos presentes
Na mais profunda agonia
Dona Cristina dizia:
Valei-me Nossa Senhora
Minha filha está perdida
Nos bosques fora de hora
Se as feras não devorarem
Porém a chuva devora
Às quatro da madrugada
Reuniu-se muita gente
Se espalharam pelo bosque
Gritando forçadamente
Não havia quem tivesse
Roteiro da inocente
Se espalharam pelo bosque
Muitos ainda em jejum
Quando foi anoitecendo
Foi chegando de um em um
Até que chegaram todos
Sem ter roteiro nenhum
*
*
No segundo dia foi
O povo da vizinhança
Se espalharam pelo bosque
Em procura da criança
Até que chegaram todos
Sem ter daquilo esperança
Foram no terceiro dia
Já tudo desenganado
Em procura da criança
Cada qual com mais cuidado
Voltaram no quarto dia
Sem ter nenhum resultado
Para o povo que sabia
Era um dia de juízo
Procurando sem achar
Ficava tudo indeciso
Só reclamava o desprezo,
A perda e o prejuízo
Dona Cristina estava
Mais morta do que Josina
Porém disse: Deus não dorme
Faz tudo quanto destina
Suplicou com muita fé
A providência divina
Exclamou Dona Cristina:
Oh! Meu Deus onipotente...
Vós que sofrestes por nós
Numa cruz horrivelmente
Compadecei-vos de nós
E da minha filha inocente
Meu Deus de misericórdia
Vós sois senhor dos senhores
Pai dos pais, mestre dos mestres
Sois o autor dos autores
Amparai minha filhinha
E aliviai minhas dores
Meu Deus salvastes Noé
Do Dilúvio universal
Tirastes Jonas que estava
No ventre dum animal
Tirai a minha filhinha
De um bosque tão infernal
Mas antes minha filhinha
Inda não fosse nascida
Ou morresse qualquer hora
Em meus braços aquecida
Do que nas garras das feras
Dentro do bosque perdida
Meu Deus salvastes a Dimas
Entre todos os ladrões
Salvastes a Daniel
Lá na cova dos leões
Salvai a minha filhinha
De tão duras aflições
Dona Cristina lembrou-se
Do Padre Cícero Romão
Fez uma súplica a ele
De todo o seu coração
Com os joelhos em terra
E o rosário na mão
Meu Padrinho Padre Cícero
Por nosso Deus Soberano
Amparai minha filhinha
Tirai-me do desengano
Que prometo visitar
Nosso túmulo todo ano
Meu padrinho eu prometo
Pelos dogmas divinais
Se minha filha livrar-se
Das garras dos animais
Visitarei todo ano
Os vossos restos mortais
Pela Santíssima Virgem
Por nosso Deus verdadeiro
Por vosso túmulo sagrado
Por tudo quanto é romeiro
Fazei com que pelo menos
Apareça algum roteiro
Por vosso falecimento
Por vosso primeiro banho
Pelas ovelhas que vós
Reduzistes ao rebanho
Tirai a minha filhinha
De um bosque tão estranho
Ditas aquelas palavras
Suspirou Dona Cristina
Procurar era debalde
Ficou lamentando a sina
Até quando um dia Deus
Desse novas de Josina
*
*
Deus é pai não é padrasto
Socorre quem precisar
Sucedeu que um caçador
Certo dia foi caçar
Ouviu um choro na brenha
Se aproximou do lugar
Era a menina perdida
Quando viu ele, correu
Ele fez um medo a ela
A criança esmoreceu
Ele pegou-a nos braços
Porém não a conheceu
A criança apenas disse
De quem era e onde morava
Ele garantiu a ela
Que para casa a levava
Nunca tinha ido lá
Porém se fosse acertava
Conduziu ela pra casa
Agradando muito a ela
Quando foi no outro dia
Num burro botou a sela
Montou-se no burro e foi
Levá-la à família dela
Era quase cinco léguas
Mas ele a levou urgente
Entregou ela a família
Josina muito contente
Reinou um prazer no povo
Que quase morria gente
Dona Cristina pagou-lhe
Com muita satisfação
Deu cem mil réis da viagem
Em louvor daquela ação
Hospedou-o e tratou bem
Como se faz no Sertão
Engraçado foi Josina
Contar em casa a mãe dela
De que forma se perdeu
E a aflição que viu nela
E um Padre que viu no bosque
Andando junto com ela
Josina disse: mamãe
Eu cheguei num grutilhão
Encontrei um padre velho
Com um rosário na mão
Os cabelinhos tão brancos
Que parecia algodão
O padre ia ver frutas
Me dava pra eu comer
Depois ia buscar água
Me dava pra eu beber
Mas o padre era encantado
Só saía sem eu ver
Quando eu estava com sono
No colo dele dormia
Porém quando eu acordava
Procurava ele não via
Eu começava a chorar
E o padre me aparecia
Dona Cristina sentiu
Uma grande comoção
Contritamente fixou
Os dois joelhos no chão
Exclamou: isso é prodígio
Do Padre Cícero Romão
Apesar de falecido
O Padre Cícero Romão
Porém seu grande prodígio
Chamou o povo atenção
Registrando o sucedido
Por todo aquele Sertão
Lá gente em Borbotão
De toda localidade
Reuniu-se na fazenda
Comentando a novidade
Dando muitos parabéns
Por muita felicidade
Vejam bem, caros leitores
O prazer desta menina
E a alegria incomparável
Que teve Dona Cristina
E o descuido o que faz
Depois queixar-se da sina
Eu considero Josina
Uma guerreira de amor
Porque lutou contra a sorte
Mas teve Deus a favor
Depois encontrou auxilio
Num braço consolador.
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