Este blog é organizado pelo Poeta Clécio Dias e tem o objetivo de preservar e divulgar a literatura de cordel da Capital da Sulanca.

20 de setembro de 2008

Os Passarinhos


Meu quintal causava inveja
Em muitos dos meus vizinhos
Eu criava seres belos
Tão leve quanto carinhos
Suaves o tempo inteiro
Eu amava meu viveiro
Repleto de passarinhos

Seres frágeis, inocentes
Sem malícias, sem receios
Eu ouvia seus cantares
Buscando novos anseios
O céu azul era um manto
E Deus um maestro santo
Regendo aqueles gorjeios

Com os pássaros cantando
Eu me acordava surpreso
Seu canto era luz brilhante
Porque me deixava aceso
Deixava-me mais contente
Até que um dia inocente
Passei uma noite preso.

Noite longa noite escura
Me fez perder a razão
Ouvindo o canto sem forças
Dos presos numa canção
Canção em tom sofredor
Fez-me entender a dor
De viver numa prisão

Quem regia aquela orquestra
Composta pelos detentos
Lembrou-me a dos passarinhos
Também não tinha instrumentos
Seus cantos desesperados
Eram em vão carregados
Em meio ao sopro dos ventos

De manhã quando fui solto
Com muita dignidade
Lembrei-me dos passarinhos
Trancados contra vontade
Inofensivos cantavam
Vi que seus cantos clamavam
Também pela liberdade

Eu disse vocês merecem
Trilhar livres seus caminhos
Porque não são criminosos
Precisam construir ninhos
Saí com a mão rasteira
Abri chorando a porteira
E soltei os passarinhos.

Saíram voando alegres
Entoando outros cantares
Respirando a liberdade
Conhecendo outros lugares
De volta às suas raízes
Hoje sim estão felizes
Voando livres nos ares.

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